A Segurança dentro de uma
Insegurança!
Discursos sobre
Violência em Rio Branco: Uma Realidade dinâmica e uma atuação lenta da Polícia
Judiciária Acreana
O interesse pelo referido tema parte das minhas inquietações enquanto estudante do curso de História pela UFAC, onde somos levados constantemente a discutir questões e problemática que envolve nossa sociedade, bem como o fato da minha inserção já há dez anos nesta Instituição Policial, veio a contribuir com a escolha deste enfoque temático.
Nos últimos anos
houve um alargamento da violência em nossa capital, mas especificamente a
partir dos anos 70 em diante. Período este que, coincide com o avanço das
forças pioneira agropecuária, forçando a expulsão dos seringueiros para compor
às periferias de Rio Branco. Tal como afirma, na apresentação de sua Tese,
Domingo Almeida: “Por não oferecer uma infra-estrutura capaz de absorver o
expressivo contingente populacional migrante, a capital do Estado, a exemplo
das demais cidades receptoras, passou a conviver com problemas diversos nunca
antes experimentados ou que jamais haviam atingido tamanha proporção, tais como
falta de emprego e moradia, aumento da marginalidade e da prostituição...”
Ainda que
se pese outros fatores causadores de violência urbana e outras formas de
violência urbana no Acre e no Brasil, também não podemos negar que a pobreza e
o desnível social, além da falta de opção de uma vida mais digna, não contribua
para essa situação de violência, sem limite, em nossas principais cidades. Por mais
que, Rio Branco, ainda que esteja longe de ser uma metrópole, já convive há com
sérios problemas de uma cidade grande. O período temporal, em que me proponho a
estudar, especificamente, a partir de 1983 a 2004, onde a cidade de Rio Branco
sofreu e vem sofrendo um certo crescimento, embora desordenado e formando uma
periferia, impulsionada pela expansão capitalista agropecuária, tal como bem
descreve o Professor Airton Chaves da Rocha: “os bairros de Rio Branco foram
(e estão sendo) construídos nas três últimas décadas, problematizando versões,
mais principalmente discutindo como se efetivo e está se efetivando“o
fazer” morador urbano de muitas das famílias de seringueiros na
luta pela moradia, pela infra-estrutura dos bairros pobres, pelo trabalho,
enfim, pelo direito a vida”(p. 49). É inegável que nos últimos anos o
Estado não tenha tido um certo desenvolvimento; mas mesmo assim, não consegue
atingir os anseios nas promoções de políticas públicas que alcancem às demandas
da sociedade acreana.
O Brasil é
um dos países com mais desigualdades, no âmbito social do mundo, e no Estado do
Acre não é diferente, sendo ainda até mais grave, pois aqui é muito forte a
concentração de renda, de forma que existe um abismo que separa os econômicos,
sociais e culturalmente mais providos, dos que são totalmente desprovidos disso
tudo. Observa-se, por tudo isso, também que o Estado deixa muito a desejar, no
se refere a procurar reverter esse quadro. Gera-se com isso, uma grande camada
de marginalizados. Solo propício, em meio à exclusão, ao preconceito, à
miséria, , ao acesso fácil às empresas do tráfico de entorpecente, ao desajuste
familiar, onde tudo agregado, forma um ambiente fértil para que surja a cultura
da violência, manifestada de várias maneiras em nossa sociedade.
Em nossa sociedade capitalista onde o consumismo das cidades é intenso, onde a competição é acirrada, e o querer ter é uma espécie de combustível da vida, sendo quase que obrigatório, se não compulsivo; como bem cita Regis de Morais em seu livro sobre o tema em foco, nesta sociedade só pode gerar “aqueles que, não podendo acompanhar a maratona do possuir, transformam a fragilidade que suas frustrações impõem num feroz potencial de agressividade”.
Em nossa sociedade capitalista onde o consumismo das cidades é intenso, onde a competição é acirrada, e o querer ter é uma espécie de combustível da vida, sendo quase que obrigatório, se não compulsivo; como bem cita Regis de Morais em seu livro sobre o tema em foco, nesta sociedade só pode gerar “aqueles que, não podendo acompanhar a maratona do possuir, transformam a fragilidade que suas frustrações impõem num feroz potencial de agressividade”.
Diante
dessa onda avassaladora de violência, que tomou nossas capitais, a exemplo de
Rio Branco, segue o discurso policialesco, ou da falta de polícia e da
criminalização da pobreza. Vem então, o nosso estudo sobre a atuação da Polícia
Judiciária Acreana, como Instituição representativa dessa ineficiência do Estado
em conter o avanço da criminalidade em um único ponto que seria lotar os
presídios, como estão os cárceres em nosso Estado. Está claro que os três
pilares o da erradicação, prevenção e
promoção de justiça social estão sendo esquecidos. Tal como Foucault em Vigiar
e Punir relata: “A execução da pena vai-se tornando um setor autônomo, em
que um mecanismo administrativo desonera a justiça, que se livra desse secreto
mal-estar por um enterramento burocrático da pena”. (p. 15)
Isto
posto, somos levados a crê que a violência urbana cresce em função da miséria,
da pobreza e da ineficiência do Estado que sempre defende interesses do “Status
quo”. Não podemos ser inocentes, pois ainda prevalece e arrrastam-se as
correntes das senzalas em nosso país. E o que é oferecido a nossa sociedade, às
nossas classes são: “Educação para as elites, escola para os vadios e
violência para todos”, que tem o título de um artigo do professor José Luis
Simões.
Falar de
Violência Urbana no campo da História é algo extremamente novo, principalmente,
tentar em meio a esse assunto descrever o que é uma Instituição de Segurança
como a Polícia Civil acreana. Trabalho este que ninguém até agora, ousou fazer,
ou seja, neste trabalho tem um certo ineditismo.
Foi
escolhida esta data marco inicial de estudo, pois, foi também a data da
fundação em 20 de maio de 1983, onde se criou o sindicato representativo da
Polícia Civil no Acre – Sinpol- que sempre representou um agregado dos
servidores da Secretaria de Segurança Pública do Acre. Enquanto servidor do
quadro, com bem menos anos de integração ao quadro de agentes de polícia civil,
também não deixamos de ouvir relatos da história de grandes policiais da
Instituição, ou até mesmo, no seio da família sempre ouvi, como neto de
ex-policial, estórias e invenções de
policiais que se tornam ícones e mitos, geralmente por suas truculências e
brutalidades. Também tem a história da luta do sindicato classista, o qual já
tiveram grandes lideranças no comandando, lutando por várias categorias, que ao
mesmo tempo compõe a Segurança.
A
propósito, para sabermos mais sobre esta Instituição, citemos a passagem de
Jurídica de Márcio, onde conceitua esta Polícia que existe no Brasil, há
aproximadamente quase 200 anos, sendo esta uma instituição, segundo o autor,
política, histórica, jurídica e eclética: “A par da polícia preventiva,
ostensiva, que se empenha vigilantemente em proteger a sociedade e seus
membros, assegurando direitos, evitando prejuízos, prevenindo delitos e
mantendo a ordem e paz pública, nasceu uma nova modalidade de polícia – a
Judiciária – com finalidade de descobrir e perseguir criminosos que não foram
contidos pelo policiamento ostensivo, colher provas, proceder a inquirir
pessoas, tudo concorrendo para que a Justiça possa atuar” (p. 41).
A Polícia
Judiciária funciona, à medida que trabalha com o inquérito policial, primeira parte do processo judicial, atua
como órgão auxiliar da Justiça. Esta, pondo-se como neutra diante de situações
conflitantes do arranjo social. Para Foucault, “a justiça não mais assume
publicamente à parte de violência que está ligada a seu exercício. O fato de
ela matar ou ferir já não é mais a glorificação de sua força, mas um elemento
intrínseco a ela que é obrigada a tolerar e muito lhe custa ter que impor” (p.
15). O que queremos dizer é que a Polícia e a Justiça outrora executora e
propagadora de martírios em nome do Estado e da soberania, mudou-se agora sua
faceta, como diz Foucault, com as prisões modernas. Se bem que, ainda são
comuns estes órgãos, ao invés de serem os ditos “protetores”, inveterem-se
sendo os causadores do maior volume de violência.
Foucault
também em seu livro Microfísica do Poder, nos cita uma passagem referente ao
Júri Popular, ou melhor, critica toda sua estrutura de funcionamento como sendo
uma estrutura de manutenção do poder capitalista: “No caso de uma justiça
popular, não há três elementos; há massas, quando reconhecem em alguém um
inimigo, quando decidem castigar esse inimigo – reeducá-lo – não se referem a
uma própria idéias universais abstrata
de justiça, referem-se somente à sua própria experiência, à dos danos que
sofreram, da maneira como foram levadas, como foram oprimidas” (p. 45).
De forma nenhuma
querendo desprestigiar Instituições, com sua função social bem definida, e
eficaz no ponto de estratégia de ação contra a violência; na medida que não se
combate, em primeira instância, com “flores”, um mal que tanto nos ameaça e nos
amedronta, pois o crime não é apenas um aspecto da violência nas cidades; mas se a vida é um bem de quase
maior grandeza, pelo menos deveria ser, é o aspecto da maior importância.
Mesmo assim,
pretendo trabalhar esse contra-ponto entre a Violência Urbana como produto
pobreza e do caos das cidades, que saiu de um espaço amigável e tão sonhado por
Péricles na Grécia Antiga, ou mais especificamente saiu em menos de três
décadas de nossa pacata cidade Rio-branquense, para a subversão de uma feroz
urbanização capitalista, onde o homem degrada-se a si mesmo, oprime-se e
devora-se, ceifando vidas a quase todo momento, sem contar outras espoliações
criminosas.
Imagens de violência nas cidades
O outro ponto
refere-se a critica ao aparelho
repressor do Estado (no caso a Polícia Judiciária Acreana), tocando em seus
ranços e avanços. É notório que esta polícia vem se modernizando, e
sendo composta por novos quadros, e um melhor grau de eficiência em seu zeloso
dever de garantir o cumprimento da ordem e da lei. E como diria Foucault é
aparelho do Estado eficaz no disciplinamento punitivo, conjuntamente com outras instituições
repressoras. Isto é, aplicar a lei e tornar dócieis os avessos à moral,
ao comportamento, valores e regras da nossa sociedade.
Conforme relata
José Elias Chaul, um policial aposentado da Instituição, que passou por quase
todas funções, sendo agente de polícia, delegado, corregedor, diretor-geral, de
Polícia e secretário de segurança Pública. Conta-nos às dificuldades iniciais
da sua carreira: “Atuar na polícia de antigamente era muito difícil,
primeiro por que tudo era incipiente. O quadro de material humano era muito
pequeno e tinha treinamento. A gente trabalhava mais com a raça do que mesmo
com a técnica. Não tinha perícia, não nada, a gente saia para uma diligência,
por exemplo e não tinha como a família justiçar e se morreu, morreu no trabalho,
né”
Com relação ao
passado certamente a Polícia Civil deu passos de qualidades, como também
observa o ex-policial aposentado Elias Chaul, citando e elogiando a gestão do
governador Rui Lino e a gestão atual: “O Zé Rui Lino foi um bom governador
para a área de Segurança Pública. Ele adquiriu equipamentos, viaturas, pouca
coisa, mas que serviu muito. E outro, foi Jorge Viana, que olhou com bons
olhos, com carinho para as duas polícias do Estado, a Polícia Militar e a
Polícia civil.”
De fato, em muito melhorou a Polícia Civil, houve
reposição salarial, Plano Bresser, PCCR, isto já na década de 1990, e entrando
em outro milênio(2001), é criado a Lei
Orgânica da categoria, ou das categorias. Logo em seguida, na gestão do governador
Arnóbio Marques, tem-se a criação da Secretária de Estado da Polícia Civil,
conseqüentemente maior autonomia na gestão dos próprios recursos. Isto,
conforme demonstra dados estatísticos, contribuiu para maior na elucidação de
crimes. Mas os dados em forma de quadro é um caos, como segue abaixo:
§ 2º 0 exercício dos cargos policiais civis privativo dos integrantes das respectivas carreiras.Segundo consta, em um breve histórico em folheto
panfletário a criação da Polícia Civil do Estado do Acre ocorreu somente após
1985. Antes disso, quem exercia o serviço de guarnecimento era a Ex-Guarda
Territorial. Embora, já existisse na Constituição Estadual fundada em 1963, com
os seguintes artigos abaixo:
“Da Polícia Civil
Art. 133. A Polícia Civil, instituição permanente do
Poder Público, dirigida por Delegado de Polícia de Carreira e organizada de
acordo com. os princípios da hierarquia e da disciplina, incumbe, ressalvada a
competência da União, as funções de Polícia Judiciária e a apuração das
infrações penais em todo o território do Estado, exceto as militares, sendo-lhe
privativas as atividades pertinentes a:
I - polícia técnico-científica;
II - processamento e arquivo de identificação
civil e criminal;
Ill - registro e licenciamento de veículos
automotores e a habilitação de seus condutores;
IV - licenciamento de porte de armas.
Art. 134. A Polícia Civil é estruturada em carreira,
verificando-se as promoções pelo critério alternado de antigüidade e
merecimento.
§ 1º 0 ingresso na Polícia Civil dar-se-á na
classe inicial das carreiras, mediante concurso publico de provas e títulos,
realizadopela Polícia Civil, com a participação da Ordem dos Advogados do
Brasil em todas as suas fases.
§ 3º Os cargos da carreira de Delegado de Polícia
serão providos por concurso publico de provas e títulos, com a participação da
Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Acre, em todas as suas fases, dentre
bacharéis em direito que possuam bons antecedentes e gozem de conceito social
incontestável.”
Para a formação
do quadro de pessoal da polícia judiciária, o que se dá no Governo de Jorge
Kalume, por contrato e sem concurso. No momento da regulamentação da Profissão
este fato se deu pela lei nº. 841/85.
Sabemos que
houve em anos posteriores, leis regulamentando o ingresso para o exercício das
funções de agente de polícia, escrivão e papiloscopista, exigindo ensino médio.
Para Delegado foi-se exigido curso
superior em Direito. Aos peritos e
médicos-legista obrigou-se ter Cursos Superiores em suas respectivas
áreas.
Sem dúvida, esta
Instituição tem seus méritos. Sempre foi uma polícia pouco truculenta, tem fama
de honesta, porém ainda muito a se qualificar para sair do atraso e estagnação
diante do dinamismo do crime.

Posto policial
de Penápolis, em 1912. (Fonte: Os Anos do Conflito – José
Paravicini, Cunha Matos, José Marques Ribeiro; vol. I; Marcos Vinícius e
Arquilau de Castro Melo)
O 2º Distrito
Policial, datada de 1950,
localizada na rua
24 de Janeiro, no SegundoDistrito
de Rio Branco. (Fonte: Os
Anos do Conflito – José Paravicini, Cunha Matos, José Marques Ribeiro; vol. I;
Marcos Vinícius e Arquilau de Castro Melo)
Não querendo
apossar-se inteiramente do discurso da midiático, que coloca as classes pobres
e paupérrimas, como “classes perigosas”, colocando-as sempre como propagadoras
de violências. Mas dentro de uma perspectiva da crítica imposta ao Estado da
qual nenhum pesquisador ao tratar este tema conseguirá fugir por completo,
feita por Foucault e outros pensadores.
IV-METODOLOGIA:
O trabalho de
pesquisa será realizado através da utilização do método de procedimento
monográfico, uma vez que se trata de um trabalho científico que requer
reflexão, ou eventual flexibilidade na estrutura do projeto. As fontes serão
deste que servirão como técnica e instrumentos irão deste: a entrevistas com
detentos; autoridades da área policial e judiciária; com moradores das
periferias que convivem com o crime; membros diversos da corporação; pessoas
acometidas de qualquer tipo de violência urbana; atas do sindicato da categoria
dos policiais civis; queixas-crimes; ofícios; questionários; pesquisas
documentais nos banco de dados e estatísticas da criminalidade em Rio Branco
fornecido pelo Inforpol e pelo Sigo ambos eletrônicos da Secretaria de
Segurança; pesquisa nos arquivos corrente e permanente da Secretaria de Estado
da Policia civil; Pesquisa Junto aos Centros de Direitos Humanos de Rio Branco;
pesquisa no CDIH-UFAC; pesquisa bibliográfica das principais teses de autores
regionais e nacionais relacionado ao tema; pesquisa de jornais e outras
ferramentas, como os site da internet. Logo após, a coleta de dados e seleção das fontes, vamos
partir para análise de resultados, seguindo de um relatório de pesquisa.
Um
trabalho como este deve ter grande contribuição no campo da historiografia
dentro uma História Social Urbana local, bem como paralelo estudo dos
mecanismos de controle dos Aparelhos de poder do Estado. Sofrendo influência,
portanto, deste a História Social Inglesa de E. P. Thompsom e outros pensadores
dessa linha marxista, que pensam a exclusão social e enxergam criticamente as
condições de vida dos trabalhadores e farrapos humanos; aonde muitos tornam-se
marginais e vadios por falta de opção. Mas primordialmente devo-me atentar
detalhadamente aos estudos de Michel Foucault com suas sucessivas críticas ao
Estado e aos seus aparelhos de poder, e não descartando outros pensadores da
área de psicologia; sociologia e
geografia. Citamos já no corpo do projeto autores locais, como os professores
Domingo de Almeida e Airton Chaves da Rocha, que estudam as questões
especificas da periferia de Rio Branco.
Não
podemos descartar obras como de Cesare Lombroso em seu livro O Homem
Delinquente, de 1876, que talvez nos
dê subsídios para uma abordagem não generalizada dessa questão. Da mesma,
podemos apossar-nos de outro autor, como
Gabriel de Tarde(1843-1904), psicólogo social e criminalista francês,
que criticou as teorias biológicas de Cesare Lombroso, e imprimiu aos estudos
da criminologia outros trabalhos, suas Obras:As leis da imitação (1890)
e Estudos penais e sociais (1892).
Enfim,
sabemos que poderemos enveredar por vários caminhos nessa instigante viagem que
é a pesquisa, podemos inclusive mudar de rota; mas jamais teremos a pretensão
de sermos portadores de uma verdade absoluta. Aqui, tem-se um roteiro flexível,
um início de uma discussão a ser feita. Pois, críticas são muitas vezes
construtivas; assim, ouso a questionar Instituições de forma responsável.
Assim, como continuo a sonhar com mundo melhor.
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