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sábado, 29 de junho de 2013

FICHAMENTOS: SOCIEDADE FEBRIL
“[...] A preocupação inicial do projeto era reconstruir a experiência de negros escravos, libertos e livres nos cortiços cariocas...” (p.07)
“[...]lutas contra a escravidão nas últimas décadas do período monárquico...”(p.07).
“[...] testemunhas irretocáveis sobre a relevância das solidariedades construídas nos cortiços para luta dos negros pela liberdade...” (p.07).
Em consulta a tese de doutorado do Prof.º Carlos Eduardo Moreira de Araújo, que tem pelo título: Cárceres Imperiais:  A Casa de Correção do Rio de Janeiro. Seus detentos e o sistema no Império, 1830 – 1861. Tendo como Orientador o autor do livro a ser fichado temos relatos do “ primeiro grupo de sessenta condenados à prisão com trabalho chegou ao canteiro de obras em janeiro de 1834. Contudo, não foram os únicos que participaram desta empreitada. Africanos livres, escravos (alugados ou presos por fugitivos), trabalhadores livres (artífices e mestre), e ainda os considerados “vadios e desordeiros”, foram utilizados para a execução do projeto.”
Daí que podemos observar que, a prisão já surge com potenciais construtores e moradores dela.
Fazendo uma analogia do o texto para o fichado, observamos que as correntes das senzalas já aprisionavam e ainda continua aprisionando, perseguindo e estigmatizando camadas sociais  pobres ditas perigosas, viciadas, promíscuas discurso este Policialesco e midiático valorizando a forte repressão aos pobres e grupos minoritários, tal qual a política de destruição e higienização política no final  XIX no Brasil e em todas épocas.
Da mesma forma deu-se a inauguração do Presídio Dr. Francisco de Oliveira Conde no Acre (1983), que no ato de inauguração houve uma forte propaganda, onde para fortalecer o discurso os jornais divulgavam notícias hilárias de violência pouco antes da inauguração.
E quem era e sempre são os noticiados? A “classe perigosa” que por ser pobre pode naturalmente os bêbados, pedintes, meretrizes, ladrões e vadios viciados. Tal discurso colabora para manter um clima de afastamento, isolamento ou clausura destes.
Sempre no entre-grades, sofrendo por tal discurso legítima generalização, ações da polícia violenta, enfim, vê-se uma necessidade sempre de mandá-lo para o mundo do invisível.
 Além disso, eram considerados doentes. Ou seja: um discurso colonizador, discriminador, xenofóbico, racistas ainda tem muito prevalecido para disfarçar um abismo de desigualdade social.
Todas políticas da época deste as formações dos cortiços, casabres, comunidades coletivas de  escravos do  período que antecede a Proclamação da República, de desmoronamento e despejo no XIX, sobretudo no Rio de janeiro, eram movidas administrativa e tecnicamente baseada na ideologia das “classes perigosas”. Tudo isso, no conceito de Mary Carpaeter que a formulou, com luperproletariado, uma espécie de escoria da sociedade, quem já havia passado pela prisão, furtavam, eram incivilizados. Para destruírem os cortiços e as áreas urbanas teriam que acabar com uma suposta cultura da pobreza promíscua, enfim, livrar-se desse bando.
“ Os cortiços supostamente geravam e nutria “o veneno” causador do vômito preto. Era preciso, dizia-se, intervir radicalmente na cidade para  eliminar tais habitações coletivas e afastar do centro da capital as classes perigosas que nele residiam. Classes duplamente perigosas, porque propagavam a doença e desafiavam políticas de controle social...”(p.08)
Hoje temos visível esse modelo, onde para o embelezamento da cidade, arranca  formas diversas de ganhar a vida, através de pequenos comércios, perseguição a vendedores ambulantes, pessoas afastadas do centro tornando bairrista, em bairros pobres. I
Isto por que para muitos maltrapilhos perambular pelo centro da cidade, poderá ser abordado pela polícia, daí ficarem muitos no “entre–grades”, bandidos, que muitas vezes, não são tão perigosas.
“ Os cortiços supostamente geravam e nutriam “o veneno” causador do vômito preto. Era preciso, dizia-se intervir radicalmente na cidade na cidade  para eliminar tais habitações coletivas e afastar do centro da capital as “classes perigosas” que nele residiam. Classes duplamente perigosas, porque propagavam a doença e desafiavam as políticas de controle social no meio urbano...”
História construída no entrelaçamento de muitas historias, a da febre amarela convergiu sistematicamente para a história das transformações políticas de dominação e nas ideologias raciais”(p.08)
Essa política de higienização e controle social até hoje é aplicada nos presídios, que como o próprio Ministro da justiça atual, declarou serem verdadeiros campos de concentração.
Também comum é vermos chacinas e atentados violentos contra moradores de ruas, ou que estão por algum motivo nas ruas. Grandes são seus dramas, perseguidos, sem lugares para dormir e fazer suas necessidades básicas.
Também vimos com tristeza a chacina ou quase genocídios de 111 presos na Casa de detenção Carandiru, prova da vontade de eliminar sem piedade tais seguimentos, sendo que é cada vez mais forte tratar os conflitos sócio-culturais, impondo severa violência, e massificando essa ideia para justiçar uma discriminação, um preconceito aceito por todos...que nem sabem às vezes que também estão incluídos como classes perigosas.
“ [...] os doutores praticamente ignoravam, por exemplo, uma doença como a tuberculose, que eles próprios considerava especialmente grave entre a população negra do Rio.”(09).
“Numa segunda etapa, a iniciar-se nos primeiros anos da República, serão analisadas mudanças do modelo prisional, ocorridas em função da reforma urbana do Rio de Janeiro, promovida por Pereira Passos e outros que o  sucederam. Quais as novas formas de encarceramento e punição e quem são os indivíduos que serão então aprisionados e excluídos do convívio social? O final dessa etapa será marcado pelos anos de 1930,marco de um novo projeto de Estado Nacional.”

As greves do ABC paulista, liderado pelo então Sindicalista metalúrgico, Luiz Inácio, no final da década de 70, tinha a repressão do Estado para qualquer possível não entendimento e aglomeração de trabalhadores, exemplo este de uma aplicação de uma política de controle social no meio urbano. Sendo que ao redor das fábricas, contrastava as mansões dos altos diretores das montadoras de carros com a absoluta precariedade dos casebres insalubres e desumanos dos trabalhadores e moradores. Daí serem tidos como Classes perigosas.
Os cortiços eram lugares de resistência e manifestação cultural, tanto que quando os moradores se transferiram para os morros, veio logo brotar a questão musical, o samba e protestos. Isso um cotidiano de dificuldades, sempre tentando fazer-se enquanto sujeitos excluídos e divididos entre a dominação do Estado deixando ao esquecimento, em termos de ajuda. Porém, agindo de forma discriminatória. Isto de um lado, por outro o meio termo ao apoio a um dos o mais agravantes, que foi a formação dos grupos aplicando A Violência como Estratégia para sobrevivência, resultando numa guerra urbana.
Dentro dos morros muita cultura brotou contrária aos cânones padrões. Cultura esta se disseminou. Tão a noção do termo “malandro” entendida como um sujeito esperto, e não como um bandido, o chamado “bixo” entre tantas gírias, conceitos próprios, que contradiz o vernáculo dos doutores. Daí construírem  sua linguagem, e modo de viver.


Nesse caso podemos dizer que a prisão já nasceu aqui, com os próprios construtores negros e seguimentos excluídos, dentro delas. Vivemos aqui uma senzala moderna.
O Panoptismo – o olho que tudo vê - é um modelo disciplinar, carceral, em que a vigilância se estabelece virtualmente sobre aqueles que são vigiados, sejam eles prisioneiros, trabalhadores das fábricas, alunos de escolas, doentes em hospitais, soldados na caserna, etc. A idéia central deste modelo de vigilância carceral era a de ver sem ser visto. A conduta é afetada e assume a  normalização da disciplina, com o passar do tempo, mesmo que não haja um vigilante, que observa sem ser visto pelo vigiado. Idealizado por Jeremy
Bentham, trata-se de um projeto arquitetônico que visava ordenar o espaço das prisões, como um dispositivo ou uma tecnologia a serviço da fiscalização e do controle disciplinar. Apesar de tal modelo nunca ter sido de fato construído, tal como foi minuciosamente definido no projeto de Bentham, tratou-se de uma
manifestação ideal e mental de uma função de poder – disciplinar – que se efetuou em inúmeras outras instituições emergentes no século XIX. Tal modelo foi denominado de panoptismo por Michel Foucault, em Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987; ver também FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau Ed, 1996.”

A Revolta da vacina... centenas de revoltados presos, alguns mortos e enviados quando não mortos pelo caminho, formam mandados para o Acre, como se fosse um Prisão Sem Muro...
“[...] nem sequer sabia que a famosa Revolta da Vacina, em 1904, fora talvez a “celebração” [da introdução da política higienista].

Uma Operação de Guerra...
“[...] Três dias antes os proprietários do cortiço haviam recebido uma intimação da Intendência Municipal para que providenciassem o despejo dos moradores, seguido da demolição imediata de todas as casinhas. A intimação não fora obedecida, e o prefeito Barata Ribeiro prometia dar cabo do cortiço à força. Às sete horas e trinta minutos da noite, uma tropa do primeiro batalhão de infantaria, comandada pelo tenente Santiago, invadiu a estalagem, proibindo o ingresso e a saída de qualquer pessoa.” (p. 15).

O cortiço Cabeça de Porco sofreu então uma repressiva ação de despejos, sob os assim chamados “valhacouto de desordeiros
“[...] Os trabalhadores começavam a destelhar as casas quando saíram de algumas crianças e mulheres carregando móveis, colchões e tudo o mais que conseguiam retirar a tempo. Terminada a demolição da ala esquerda, em cujas casinhas ainda havia sabidamente moradores. Várias famílias se recusavam a sair, retirando quando os escombros começava a chover sobre suas sobre suas cabeças. Mulheres e homens que saíam daqueles quartos “estreitos e infectos” iam às autoridades implorar que “os deixasse permanecer ali por mais 24 horas...” (p. 17).
A cena descrita é comovente, como comovente são todos projetos de despejos e higienização feito através de imperativos do Estado e as classes dominantes. Tal como ocorreu aqui no Acre com a chegada dos paulistas e expulsão dos seringueiros que foram fazer-se seu modo de viver, nas cidades, lutando contra a pobreza e por uma vida digna para seus filhos em diversas cidades do estado.
 Resultado, poucos conquistaram seu espaço com dignidade, o que gerou uma parte destes, em meio a prostituição e marginalidade, ou simplesmente pela origem humilde, alguns pensam serem isso. Num processo de discriminação, para os que por falta de oportunidade não alcançaram o ritmo da competição e consumismo capitalista se estabilizar sócio-economicamente.
O destino dos moradores despejados....foram para o mundo do invisível, como em todo despejo de pobres, os sempre suspeitos e sujeitados. Na verdade começa as formações dos morros cariocas nessa época.
“[...] nem bem se anuciava o fim dos cortiços, e a cidade do Rio já entrava no século das favelas...”(p.17).
“[...]A moral da história do JB é que Barata Ribeiro, homem pequeno e magricela, devia ser um Hécules dos “novos” tempos, e sua missão era purificar a cidade, livrando-a definitivamente daquele “mundo de imundice”(p.19).

“[...] O episódio da destruição do Cabeça de Porco se transformou num dos marcos iniciais, num mito de origens mesmo, de toda forma de conceber a gestão das diferenças sociais...

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